segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Participação Cidadã

É difícil encontrar grande participação popular em audiências públicas, salvo quando existem interesses pessoais e imediatos envolvidos. Foi assim com as audiências públicas do Plano Diretor, todos os anos é assim com as audiências da LDO e do Orçamento. A participação cidadã é um conceito muito amplo e distante da atual sociedade brasileira. Diria que torna-se cada vez mais distante da sociedade ocidental que é cada vez mais regulada pelo princípio de mercado cujos efeitos tornam-se visíveis na fluidez da relações intersubjetivas e nas relações opressivas do estado frente ao sujeito. 

As motivações para a participação raramente são cidadãs. Opinar sobre o futuro do Município, do Estado e do País, de maneira desinteressada passou a ser visto, pelo menos no Brasil, como sinônimo de idiotice. "O que quer este cara?"; "O que ele ganha com isso?"; "Este aí só quer complicar!!". São frases comuns diante da participação "meramente" cidadã. Numa linguagem menos academicista, podemos dizer que é senso comum a participação subjetiva, ou seja, interessada em alguma forma de benefício direto ou imediato. 

É triste a constatação de que a cultura política brasileira é personalista na sua base. Muito se critica os políticos como se estes fossem alienígenas, justamente porque temos a necessidade de terceirizar as mazelas sociais e assumir todas as virtudes, inclusive as naturais: "Somos" um povo ordeiro e trabalhador, "vivemos" num país tropical abençoado por Deus, "pago" meus impostos portanto "faço" minha parte, enquanto que a violência, o tráfico, a corrupção é culpa "deles", isto é, dos "outros". 

Participação cidadã é fazer sua parte reconhecendo ser parte do que é feito. É realmente participar da polis e sua plenitude. Ter em vista que todos os processos subjetivos desaguam na coletividade objetiva, constituindo e transformando uma totalidade que chamamos de sociedade. Neste sentido é que podemos dizer somos parte de um todo que nos constitui e que constituímos. Diria que participação cidadã é justamente creditar ao "outro" as virtudes sociais, reconhecendo-o, assim, como cidadão.

Nos resta apenas ter o senso crítico para filtrar informações para não nos tornarmos aquilo que criticamos.