segunda-feira, 25 de junho de 2012

Brasileiro é louco por monarcas


Há muito que leio sobre política, seja pela leitura da Antropologia, pela Sociologia ou pela História. Talvez por buscar muitas respostas é que acabo não compreendendo alguns fenômenos. Bem, ultimamente as reações estão me assustando muito mais que os fatos.

Vamos lá, então! Muitos autores dizem que a sociedade ocidental é policialesca. Alguns estão falando que a sociedade é líquida. Outros que as relações de poder produz, no caso brasileiro, a desigualdade de oportunidades e corpos dóceis. Já outros autores dizem que nossa sociedade é autoritária fundada sob mitos da sagração do governante, da história e da natureza, cuja formação do patronato constituiu uma cultura política que legitima os "donos do poder". Outros autores dizem, também, que no Brasil o totalitarismo se traduziu no populismo e, que nossa "Revolução Francesa" foi em 1930 e que nosso "Antigo Regime" seria , não a monarquia, e sim o coronelismo da República Velha.

Pois bem, já que estou livre da égide academissista, como diz nossa apresentação, vamos viajar na história política brasileira para entender alguns fatos recentes. Poderia elencar alguns fatores para explicar as origens dessa complexa política brasileira.

Nossa viagem começa em 1808 quando a família real portuguesa aportou no Brasil, iniciando aí a vida política da "Terra Brasilis". Esta vida política começa sob uma monarquia decadente que se vê encurralada entre a França de Napoleão, a Espanha absolutista e o império inglês.

As práticas políticas do monarca então, para manter a credibilidade e a fidelidade de seus súditos são, entre outras, a de distribuição de títulos de nobreza. Estes nobres, por sua vez, vendiam cargos públicos mas mantinham o controle para garantir que os serviços "públicos" beneficiassem os seus interesses. Outra prática política era o patrimonialismo, que consiste na apropriação dos bens públicos pelo monarca.

Vemos então que nossa política funda-se fortemente sob o paradigma monárquico, tanto que após a independência, 1822, movimento das elites comerciais com a coroa portuguesa, permanecemos como monarquia, enquanto que no restante dos países americanos, majoritariamente houve revoltas populares e a adoção do modelo republicano. Por conta da Proclamação "acidental" da República, 1889, percebe-se a força da monarquia como cultura arraigada na sociedade. Na República Velha, os militares nada mais fizeram que exaltar um nacionalismo republicano de práxis monárquica. A participação popular ainda permanecia nula e as oligarquias regionais, com seus coronéis é que dominava a política. Eis o coronelismo!

Nossa matriz absolutista ainda preponderava na prática política, cujos representantes detinham ainda o controle absoluto do Poder Executivo e transformando num apêndice, o Poder Legislativo. Tanto que o Estado Novo começa com uma ditadura que fecha o congresso. Qual a outra explicação que poderíamos ter para o fato de Getúlio Vargas, ditador por quinze anos, ser eleito e tornar-se o presidente mais popular da história, senão a de que o brasileiro tem internalizado uma cultura monárquica? Somos loucos por um rei! Adoramos um monarca!

Daí vem o personalismo na política brasileira. Daí vem a dificuldade que temos em discernir o que é público e o que é privado. Deste paradigma monárquico resulta o coronelismo e o populismo, ou seja nosso totalitarismo velado. E destes "ismos" a cultura política está ainda colonizada. Isto quer dizer que, de fato, ainda não fizemos nossa "Revolução Francesa", ainda não "cortamos a cabeça do Rei".

Nos últimos 50 anos vimos infinitamente mais movimentos populares no Brasil que nos 412 anteriores. E se descontarmos os 20 anos de ditadura civil-militar, sobram 30 anos de democracia politicamente ativa.

No entanto, nem tudo é atraso. A sociedade é repleta de novas experiências que chocam-se frontalmente com aquelas estruturas monárquicas que ainda povoam a vida política. Estamos a recém organizando estruturas sociais independentes do estado, desburocratizando as instituições públicas e inserindo conceitos como o da eficiência para a melhora dos serviços públicos.

Ainda, e isto é fato, existem lugares que nos fazem viajar no tempo, não somente pelas belezas arquitetônicas dos patrimônios culturais, mas pela postura política dos cidadãos. Muitos submissos, uns poucos tidos como revoltados e outros, pretensiosamente, despóticos.