Que vivemos tempos
de pós verdades e de ruptura democrática, embora negado por alguns,
isso já é sabido. Vivemos tempos que a palavra “golpe”, além
de ser quase proibida, te define como párea em muitos ambientes.
Tempos que se buscam recontar a história até que conceitos se
modifiquem. No entanto, há um movimento silencioso, aparentemente
contido no conceito de pós verdade, que se manifesta na estética
cultural. Uma espécie de apropriação que intui capitalizar simbolismos para servir ao novo(s) “dono(s)”! Caso haja resistência,
como acontece num sequestro, a tendência é a destruição do
sequestrado! Eu explico!
Os movimentos que
chamaram as manifestações de 2014, 2015 e 2016 são formados por
jovens com posições políticas de direita. Sim, defendem o livre
mercado e estado mínimo como forma de desenvolvimento econômico e
social. Certo?! Acontece que pouca ou quase nenhuma referência
artística defende o liberalismo e o estado mínimo através de suas
obras! Até mesmo os artistas ditos liberais, cantam, interpretam,
dançam, etc. obras que contam a vida do povo trabalhador e denunciam
a desigualdade. “Povo trabalhador”, até mesmo este conceito foi
sequestrado! (Alguns defendem que trabalhador de verdade são os
empresários que geram emprego, produzem a riqueza deste país, pagam
os impostos e sustentam toda esta vagabundagem que o projeto
criminoso petista quis manter fazendo populismo para se perpetuar no
governo… ufa!!). Voltando ao tema, a ausência de expressões
estético-culturais de direita é notável, quando das manifestações
pró-golpe por exemplo, o hino nacional e o verde amarelo eram os
maiores signos! Até cantaram músicas mais populares cujos autores
não fariam parte da massa dos apoiadores do golpe, chamado
eufemisticamente de impeachment! A música “Que pais é este” da
Legião Urbana, é o caso! Embora alguns artistas que já a
interpretaram possam ter se posicionado a favor do golpe, creio que o
autor não o faria. Suspeito eu, que Renato Russo, que em suas letras
e entrevistas sempre fez veemente defesa aos direitos humanos e
denúncia aos abusos, não estaria numa manifestação sexista, de
elite, pedindo a derrubada de uma presidente eleita e vestindo de
verde amarelo da CBF. Não! Definitivamente, acredito eu, isso não
aconteceria! No entanto as suas músicas foram cantadas e parodiadas
pelos apoiadores do golpe! Lembro que alguns “salvadores do Brasil
das mãos do socialismo” cantaram até a música “Vai passar”
de Chico Buarque. Neste caso, o autor é politicamente muito
posicionado, a tendência então passou a ser a tentativa de
destruição da sua imagem. Houve resistência por parte do
sequestrado neste caso!
Se formos pensar
bem, os gêneros musicais mais populares, digo o samba e o sertanejo,
das quais derivam muitas outras variantes, têm suas origens entre o
povo trabalhador de verdade! Pessoas que, a sua época e com suas
palavras, defendiam que o estado proporcionasse mais saúde,
educação, saneamento básico, moradia, segurança, etc. No campo,
no caso do sertanejo, ou nas periferias das grandes cidades no caso
do samba. Em suma, que o estado fizesse seu papel de regulador do
capitalismo redistribuindo renda para reduzir a desigualdade. Nada de
leissez-faire! Nada de estado mínimo! É recorrente entre canções
destes gêneros, que apontam que apesar da vida sofrida, da falta de
amparo do estado, da desigualdade social, o trabalhador não perde a
esperança, tampouco a dignidade. Assim como é o caso do hip hop.
Não que todos os rappers, os sambistas e os sertanejos adotem estes
temas. O amor e o romantismo atravessam todos eles, por exemplo, mas a vertente
histórica destas expressões é “cantar o oprimido”.
Não que não se
possa ouvir ou cantar músicas de autores que defendem tendências
políticas diversas a suas! Não é isso que defendo aqui! A questão
está no uso destas obras para fins políticos diversos da sua
origem. Talvez isso, para muitos, não “tem nada a ver”, visto
que as letras e melodias das canções comerciais atuais, enfiadas
goela a baixo (ou crânio a dentro) pela indústria cultural via
lobotomia midiática, defendem apenas o jeito de rebolar a bunda ou
como ostentar o novo carrão. Há um esvaziamento da narrativa, um
vazio de fruição em todas as expressões artísticas quando se
torna comercial. O princípio de mercado, creio eu, despolitiza as
artes, visto que neste campo, o pensamento de direita não faz
sentido algum! O que vale mesmo não é mais a narrativa, é a
coreografia! Opa, lembrei da coreografia nas manifestações
pró-golpe! Talvez a coreografia tenha sido, tirando o Lobão, a
expressão artística mais genuína da direita golpista em muitos
anos!
Por fim, creio que o que ocorre, como geralmente ocorre nos sequestros com o objetivo saciar a carência de recursos financeiros, a apropriação cultural via sequestro de bens simbólicos, objetiva preencher um vazio de referências e de expressões que represente sue campo político. A pergunta que não se busca respostas é por que há este vazio no campo da direita?
Por fim, creio que o que ocorre, como geralmente ocorre nos sequestros com o objetivo saciar a carência de recursos financeiros, a apropriação cultural via sequestro de bens simbólicos, objetiva preencher um vazio de referências e de expressões que represente sue campo político. A pergunta que não se busca respostas é por que há este vazio no campo da direita?
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