Sim, existe racismo no Brasil. E está
muito próximo! Nesta semana da Consciência Negra, circulou nas
redes sociais um banner com uma frase atribuída a um padre,
que dizia algo parecido com: "Não precisamos de dia da
consciência negra, branca, parda, albina, amarela, etc, precisamos
de consciência humana". Esta publicação foi reproduzida
por milhares de pessoas. Muitas atribuíram genialidade a este
absurdo! Talvez sem perceber, prefiro acreditar nisso, estas pessoas
estavam negando o direito a um dia alusivo à memória, à história
das etnias afro descendentes brasileiras.
Ora! Quem não lembra,
existe por lei o Dia da Imigração Italiana no Brasil, e não vemos
em 21 de fevereiro, manifestações generalizantes como esta. Sem
falar nas atividades comemorativas das imigrações alemã, açoriana,
holandesa, etc. Quem reproduziu a tal afirmação, não percebeu que
o Dia da Consciência Negra, não diz respeito a apenas cor da pele.
Diz respeito a toda a herança cultural afro-brasileira que nesta
data se rediscute, se reapresenta, se revigora, etc.
As pessoas nem
perceberam que a dita frase "genial" está carregada do
racismo à brasileira. Racismo dissimulado em generalizações,
disfarçado com pseudo homogeneidades, carregado da falsa "democracia
racial". Desde os tempos coloniais, o senhorio brasileiro
admitia o convívio de negros em algumas circunstâncias sociais, na
condição de submissão, claro. A cidadania brasileira, desde os
tempos coloniais está baseada nas relações sociais. Isto é, o que
importa é o sobrenome, o círculo de amizades, etc. Por isso, na
certeza da manutenção de seu status social, o sinhozinho se
amancebava com negras, por exemplo, pois não deixava de ser
sinhozinho. Em tese e de fato, o sinhozinho era mais cidadão que
qualquer negro. Diferente dos países onde a cidadania se baseia no
indivíduo, como nos EUA. O racismo historicamente foi muito mais
evidente no sentido da segregação social. O fato de um negro
circular no mesmo espaço, consumir as mesmas coisas, viver o "sonho
americano", torna-se insuportável aos ditos WASP (white
anglo-saxon person), neste modelo social. Ser cidadão americano é
ser um "igual". O apartheid foi, muito a grosso modo, a
radicalização deste modelo social anglo, na colonizada Africa do
Sul.
Voltemos aos nossos dias e à nossa frase! A proposição do
"não precisamos de..." já afirma o incômodo com a data,
o que denota certa intolerância. Após, ao elencar várias cores,
deu a entender que todos são "iguais", há uma certa
"democracia racial" na frase. Mas a tal "consciência
humana" é realmente uma pérola argumentativa! Como se não
houvessem diferenças! Afinal, somos todos humanos! Desta forma, com
estes simplismos casuísticos, segue-se dissimulando um racismo
velado, porém tão destrutivo quanto qualquer racismo. Basta
observar os indicadores sociais para se perceber que a população
negra no Brasil continua, majoritariamente, à margem.
As ações
afirmativas foram o início, mas falta muito. É preciso educar muito
para além da “consciência humana”, mas para uma consciência
social. Caso contrário ficará difícil para muitos entenderem que
para alcançarmos uma sociedade menos desigual precisamos respeitar e
reafirmar as diferenças.
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