Não é incomum encontrarmos nos
jornais, no rádio, na televisão e em placas das obras públicas, a
exibição de números das gestões públicas. Estas placas contendo
apenas os valores gastos numa ou noutra obra, ou numa função de
governo, torna a informação descontextualizada e inócua. “O
Governo Y investiu 30 milhões de reais em Educação no ano de 2012”
é um exemplo típico de anúncio publicitário dos governos. Mas o
leitor pode (e deve) querer mais informações sobre a gestão
pública! Isto é possível acessando o Portal Transparência do seu
Município, do Estado ou da União. Nestes portais, temos informações
organizadas de fácil manuseio. Mas o leitor mais exigente, pode
querer acessar uma análise técnica de todas estas informações que
lhe diga como estão se saindo os agentes políticos com a gestão
dos recursos públicos. Aí é que a informação se torna
burocrática e de difícil entendimento, tanto para o cidadão quanto
para os próprios agentes políticos, tornando a comunicação entre
ambos assimétrica.
Existem vários fatores que contribuem
para esta “assimetria informacional” (termo utilizado pelo prof.
Valmor Slomski), que podem ser apontados facilmente. Mas vamos falar
aqui apenas de um fator que contribui para dificultar o controle
social sobre a administração pública. Me refiro a complexa
burocracia que transforma as instituições públicas em verdadeiros
emaranhados de normas e sub-normas, processos e subprocessos, rotinas
e sub-rotinas, etc.
Historicamente a burocracia, termo que
deriva da palavra bureau, que na França significava,
inicialmente uma espécie de tecido que iria sobre as escrivaninhas,
posteriormente passou a designar os móveis e com o passar do tempo
designando os próprios escritórios. Embora o termo tenha surgido
anteriormente, mas é após a Revolução Francesa em 1789, quando se
instituiu o modelo republicano, que o conceito de burocracia (buro
[bureau=escritório] + cracia [kratos=poder]) tem sua utilização e
estudo intensificados. Neste período, a França passou por intensas
transformações político-culturais, sobretudo no tratamento do
patrimônio público. E a partir desta quebra de paradigmas que as
normas para utilização dos bens, que antes eram do Rei, passaram a
ser muito mais metódicas no intuito de proporcionar a
universalização e o controle do uso dos bens, que passaram a ser
públicos.
Mas como já escrevi outro dia, os
fenômenos históricos não ocorrem de maneira estanque! Tampouco
ocorrem de maneira planejada! A burocracia nasceu para proporcionar
maior controle sobre aquilo que é público, inibir a corrupção,
etc. Mas como a cultura política de uma sociedade não se transforma
da noite para o dia, a burocracia se transformou num apêndice do
ethos político aristocrático remanescente do Antigo Regime.
Isto é, tornou-se, com o passar dos séculos, num instrumento que
dificulta o acesso do cidadão aos bens públicos e informações.
Tornou-se no seu contrário! O que acaba beneficiando a corrupção
devido a falta de controle social sobre as ações públicas.
As informações da gestão pública
são igualmente bens públicos que sofrem a ação burocrática. Se o
leitor quiser conferir o que é um relatório burocrático, basta
acessar o site da prefeitura do seu Município e procurar os
relatórios obrigatórios pela Lei de Responsabilidade Fiscal, como o
Relatório Resumido da Execução Orçamentária - RREO e o Relatório
da Gestão Fiscal – RGF. Estes relatórios são de difícil
entendimento até mesmo para profissionais de nível superior que não
estejam habituados a manuseá-los.
Contudo, percebe-se que as legislações
nascidas como “leis cidadãs”, como a Constituição Federal e a
Lei de Responsabilidade Fiscal produzem grandes dificuldades quando o
assunto é informações da gestão pública à população. O que,
repito, dificulta o controle social! Enfim, se quisermos realmente
dar um basta na corrupção política no País temos que, além de
promover uma Educação construtora de cidadania, exigirmos mais dos
gestores e de nós mesmos em busca de melhor entendimento destes
relatórios técnicos.
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