quinta-feira, 11 de julho de 2013

As Manifestações e a Gestão Pública

As manifestações de 2013 evidenciaram algo que poucos meios de comunicação difundem: A ineficiência da gestão pública em dar respostas em ações efetivas e a incapacidade da sociedade em cobrar adequadamente dos agentes políticos, sejam executivos, sejam legislativos, resoluções das demandas levantadas.

Na política partidária, onde se formam os agentes políticos para as três esferas, municipal, estadual e federal, é majoritário e tido como normal o modus operandi tradicional de se fazer política. Este ethos político se materializa nas cidades pela prática da antiga fórmula que consiste em “economizar” nos dois primeiros anos da gestão e transformar o município em um “canteiro de obras” nos dois últimos anos. Esta prática só beneficia os candidatos em seus discursos eleitoreiros em detrimento da eficiência e impessoalidade na administração pública. Este modelo politiqueiro de “gestão” voltada para as obras está ultrapassado e, na minha visão, é um fator importante do atraso administrativo do setor público.

A boa técnica, que não deve ser dissociada da boa política, aponta para a gestão com foco nas pessoas, e não nas obras. Uma “gestão cidadã” se ocupa em divulgar os números de pessoas atingidas pelos programas das políticas públicas e não somente com o volume de recurso aplicado em obras em cada área. É comum ouvir nas rádios, ler nos jornais locais, os discursos produzidos pelas prefeituras apontando o volume de recursos investido em cada área da administração pública. As obras são importantes, mas não um fim em si mesmo. Deveriam, os agentes políticos, apontar os resultados produzidos com estes investimentos e quantificá-los pela adoção ou criação de índices que demonstram se a ação pública está surtindo efeito. Exemplo de índices desse tipo são: IDEB, IDH, IDSUS, IGD, IDS, etc.

O fato é que a grande maioria das pessoas desconhecem a estrutura orçamentária e administrativa das suas prefeituras, do seu Estado e da União. Aliás, a União tem apresentado uma estrutura cada vez mais voltada para resultados, com foco nas pessoas atingidas pelas políticas públicas. Já o Governo do Estado do RS vem se aprimorando neste sentido embora atrasado com relação a União. Mas de fato, o grande entrave no sentido da gestão, são os municípios. É no município que se tem uma relação mais estreita entre agente político e cidadão. É no município que se evidencia a dificuldade dos políticos em praticar uma gestão impessoal e eficiente. Assim como é evidente a incapacidade de apropriação por parte dos cidadãos dos meios adequados para fazerem suas reivindicações. Excesso de burocracia? Afirmo que não!

Nossa cidadania é fortemente ancorada e exercida com base nas relações pessoais e não sobre as  garantias essenciais constitucionais com é o caso dos EUA. Daí a força do “Você sabe com quem está falando?”. Então, culturalmente os cidadãos buscam a participação através das relações pessoais com os agentes políticos. Daí o principal fator do esvaziamento das audiências públicas! Mas como servidor público, acredito numa evolução deste aspecto social, na participação cidadã e no fortalecimento da transparência e da cidadania. Consequentemente a redução das práticas ilícitas, com maior controle social, reduzindo a corrupção (que também é social).


Por fim, para cobrar dos agentes políticos uma gestão cidadã, basta ler e se apropriar do que diz os Arts. 37 a 39 da Constituição Federal.  Quem estuda ou estudou Direito Constitucional ou Direito Administrativo, conhece o “LIMPE”: Legalidade, Impessoalidade, Moralidade, Publicidade e Eficiência. São os Princípios Constitucionais da Administração Pública. Seria um belo cartaz para a manifestações, não é? Aprofundando estes conceitos, não faltará um instrumental teórico adequado para fiscalizar, cobrar e contribuir para uma boa gestão pública. A propósito, nos municípios estão sendo realizadas audiências públicas do Plano Plurianual-PPA, que é o planejamento para os próximos quatro anos. Uma bela oportunidade para exigir um “LIMPE” na gestão!

Nenhum comentário:

Postar um comentário