sábado, 13 de julho de 2013

Qual é o foco?

Estou ouvindo e lendo em muitas mídias que o Governo Federal está “desviando o foco” das manifestações que ainda reverbera em muitas cidades do Brasil. Dizem que a Reforma Política não é uma reivindicação das marchas ocorridas em 2013.

Pensemos, então, sobre a política em nossa Terra Brasilis desde o achamento em 1500. O Brasil foi colônia da Coroa Portuguesa 322 anos e durante os 67 anos após a “independência” foi um estado monárquico. Na verdade, o Brasil foi herdado pelo príncipe português, mas isto eu conto depois. No entanto, a partir de 1889, heroicamente foi proclamada a República Brasileira e com isso tudo mudou no Brasil, desde as questões sociais até as questões políticas, observou-se uma maneira republicana em todos os aspectos socioculturais que transformaram o País num verdadeiro modelo do projeto moderno de nação, com liberdade, igualdade e fraternidade. Será mesmo? Desculpem a ironia!

Quando se estuda um pouco a História, percebemos que as coisas não acontecem de forma isoladas e estanques. No caso da proclamação da república brasileira, não se verifica uma ruptura tão radical a ponto de no dia 07 de setembro de 1889 todas a práticas socioculturais de 389 anos sob a égide monárquica se transformarem em republicanas, como num passe de mágica. Estas mudanças acontecem na longa duração, ou seja, são muitas gerações para que a cultura política se transforme.

Pior é que nossa cultura política ainda está carregada de aspectos monárquicos. Estes aspectos nos seguiram no tempo até os dias atuais. O coronelismo, o populismo, o clientelismo político que ainda permeia nosso sistema político-eleitoral, são variações do ethos político monárquico. Mas percebam que todos estes “ismos” não existem só no meio político-partidário. São estruturas sociais que não sobrevivem sem a sociedade alimentá-las. Então, a sociedade de maneira geral tem dificuldade, por exemplo, em separar o que é público do que é do governante (privado). Herdamos isto do tempo em que todos os bens do estado eram da Coroa.

As manifestações de 2013 trouxeram a baila muitas das mazelas do nosso sistema político. As dificuldades dos governos em promover ações republicanas (“res”:coisa; “pública”:comum), isto é, ações para o bem comum em função das pressões e dos entraves políticos de raízes monárquicas.  O transporte público é um bom exemplo. Muitas vezes os empresários deste ramo, são partidários e/ou financiadores de campanhas eleitorais. Será que permanecem com suas concessões públicas por décadas em função da qualidade dos serviços prestados?

As “vozes das ruas”, como estão se referindo as demandas levantadas pelas manifestações de junho de 2013, são diversificadas, apontam para mudanças nas políticas públicas em todas as áreas, as quais só poderão ser promovidas com mudanças estruturais. Não como numa monarquia que resolve tudo com decretos unilaterais, mas com consulta a população para que o sistema político tenha mais representatividade e transmita credibilidade. O que é próprio de uma democracia.

Não creio que a Reforma Política possa ser feita por aqueles que sempre a evitaram. Estes que estão assustados com a possibilidade da modificação das regras políticas atuais, que dificultam a “república” estabelecer-se de fato. Estes que estavam jogando o foco em um ou outro governante pensando no benefício eleitoral para a próxima campanha, perceberam que talvez sejam parte do “foco”. Engraçado que estes que se beneficiam, direta ou indiretamente, deste sistema político clientelista, automaticamente foi para a defensiva com o discurso: “o governo está desviando o foco”. Por tudo isso acredito que estabelecer um novo sistema político que é condição necessária para o #BrasilMelhor.

Um comentário:

  1. Perfeito amigo Antonio Soares! Realmente, o Congresso Nacional, atordoado com a possibilidade de mudança das regras, diz que o foco não deve ser e não é a reforma política. Mas te digo, concordo contigo, estes que lá estão e se beneficiando do sistema político atual, não devem decidir nem fazer a reforma política. Esta deve ser feita com a participação ativa do povo. O real interessado. E o povo? O povo deve continuar nas ruas até que seja realmente ouvido.

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