terça-feira, 3 de setembro de 2013

Discurso e Poder

O Litoral Norte do Rio Grande do Sul recebeu a ilustre visita da Presidenta Dilma Rousseff pela ocasião da inauguração do Campus do Instituto Técnico Federal em Osório. Estive presente na solenidade e me ocorreu de escrever sobre o poder do discurso, não somente na política, mas sua influência no social.

Fique claro que não pretendo fazer defesas acerca dos conteúdos partidários dos discursos proferidos naquele ato solene. Me cabe apenas analisar a ritualística e as nuances de poder que revestiram os discursos. É lógico que mesmo se tratando de um ato político oficial, os discursos tem uma carga ideológica característica da política brasileira.

Lembrei o filósofo francês Michel Foucault (1926-1984) que diz em sua obra, a grosso modo, que o poder adquiri maior eficácia quando institucionalizado porém, as relações de poder podem ser percebidas cotidianamente, manifestadas de maneira capilarizada ou menos centralizada através do discurso. O sociólogo francês Pierre Bourdieu (1930-2002), afirma que o discurso político assume caráter de legitimidade de acordo com o poder simbólico a ele atribuído. No evento em questão o caráter solene, obviamente, carrega os discursos de um "poder simbólico" em função da representatividade, não somente dos cargos, mas pelo contexto social em que o evento, reunindo tantas autoridades, está inserido. Adquire também a eficácia de poder pois é altamente institucionalizado, pois reuniu as três esferas em suas representações máximas: os prefeitos da região, o Governador do Estado e a Presidente da República. Assim, o simbolismo de poder que o ato solene adquiri diante da sociedade é claro, não somente pelo aparato de segurança nacional instalado.

Em todo o discurso existe o que é evidenciado e o que é ocultado. Isto é, o que se diz e o que não se diz! Óbvio, não? Nem tanto quando nos deparamos com autoridades políticas que procuram, através de seus discursos, afirmar-se no campo político e que para isso é necessário evidenciar certos aspectos e ocultar outros! O que absolutamente normal e faz parte do nosso cotidiano também, pois ninguém em sã consciência sai por aí dizendo tudo o que pensa. Existem ocasiões que não nos é possível dizer o que nos vem à mente e outras que nos exige posicionamentos que desagradam alguns. Isto é praticado exaustivamente pelos agentes políticos, pois estes dependem do "poder simbólico" atribuídos a sua imagem. E constantemente seus discursos podem e serão utilizados para a construção ou para a destruição de sua "imagem política".

Enfim, para os que fazem uma leitura antropológica da política, não é de se estranhar, por exemplo, quando os discursos assumem caráter reivindicatório, como o do prefeito de Osório, solicitando maior apoio para custeio das estruturas inauguradas através de parcerias, ou quando os discursos assumem um tom de defesa e afirmação, como o do ministro da educação, que em resposta e em defesa da instituição que representa, afirmou que o custeio das estruturas federais, como o Campus Osório do IFRS, são exclusivamente por conta do Governo Federal.
A presidenta Dilma, assim como todas as outras autoridades, cumpriu todos os ritos que a formalidade lhe exige. Entretanto, ao defender, em seu discurso, a destinação de 100% dos royalties do petróleo extraído do pré-sal para a Educação, ao desmistificar o alardeado retorno da inflação, afirmando que está sob controle, ao relacionar a desaceleração da criação de novos empregos com outros períodos históricos, e que justamente a diferença do cenário histórico é que é o grande diferencial, a presidenta reconheceu que seu discurso é carregado de "poder simbólico" e que, embora estivesse no Litoral Norte do RS, em Osório, ela falava à nação como um todo.

Ao direcionar seu discurso para setores específico da sociedade brasileira, Dilma assumiu um tom discursivo de campanha eleitoral? Aos olhos deste observador, não! A presidenta apenas assumir um discurso em defesa da instituição que representa! A Presidência da República.

Nenhum comentário:

Postar um comentário