O Litoral Norte do Rio Grande do Sul
recebeu a ilustre visita da Presidenta Dilma Rousseff pela ocasião
da inauguração do Campus do Instituto Técnico Federal em Osório.
Estive presente na solenidade e me ocorreu de escrever sobre o poder
do discurso, não somente na política, mas sua influência no
social.
Fique claro que não pretendo fazer defesas acerca dos
conteúdos partidários dos discursos proferidos naquele ato solene.
Me cabe apenas analisar a ritualística e as nuances de poder que
revestiram os discursos. É lógico que mesmo se tratando de um ato
político oficial, os discursos tem uma carga ideológica
característica da política brasileira.
Lembrei o filósofo francês Michel Foucault
(1926-1984) que diz em sua obra, a grosso modo, que o poder adquiri
maior eficácia quando institucionalizado porém, as relações de
poder podem ser percebidas cotidianamente, manifestadas de maneira
capilarizada ou menos centralizada através do discurso. O sociólogo
francês Pierre Bourdieu (1930-2002), afirma que o discurso político
assume caráter de legitimidade de acordo com o poder simbólico a
ele atribuído. No evento em questão o caráter solene, obviamente,
carrega os discursos de um "poder simbólico" em função
da representatividade, não somente dos cargos, mas pelo contexto
social em que o evento, reunindo tantas autoridades, está inserido.
Adquire também a eficácia de poder pois é altamente
institucionalizado, pois reuniu as três esferas em suas
representações máximas: os prefeitos da região, o Governador do
Estado e a Presidente da República. Assim, o simbolismo de poder que
o ato solene adquiri diante da sociedade é claro, não somente pelo
aparato de segurança nacional instalado.
Em todo o discurso existe o que é evidenciado e o que
é ocultado. Isto é, o que se diz e o que não se diz! Óbvio, não?
Nem tanto quando nos deparamos com autoridades políticas que
procuram, através de seus discursos, afirmar-se no campo político e
que para isso é necessário evidenciar certos aspectos e ocultar
outros! O que absolutamente normal e faz parte do nosso cotidiano
também, pois ninguém em sã consciência sai por aí dizendo tudo o
que pensa. Existem ocasiões que não nos é possível dizer o que
nos vem à mente e outras que nos exige posicionamentos que
desagradam alguns. Isto é praticado exaustivamente pelos agentes
políticos, pois estes dependem do "poder simbólico"
atribuídos a sua imagem. E constantemente seus discursos podem e
serão utilizados para a construção ou para a destruição de sua
"imagem política".
Enfim, para os que fazem uma leitura antropológica da
política, não é de se estranhar, por exemplo, quando os discursos
assumem caráter reivindicatório, como o do prefeito de Osório,
solicitando maior apoio para custeio das estruturas inauguradas
através de parcerias, ou quando os discursos assumem um tom de
defesa e afirmação, como o do ministro da educação, que em
resposta e em defesa da instituição que representa, afirmou que o
custeio das estruturas federais, como o Campus Osório do IFRS, são
exclusivamente por conta do Governo Federal.
A presidenta Dilma, assim como todas as outras
autoridades, cumpriu todos os ritos que a formalidade lhe exige.
Entretanto, ao defender, em seu discurso, a destinação de 100% dos
royalties do petróleo extraído do pré-sal para a Educação, ao
desmistificar o alardeado retorno da inflação, afirmando que está
sob controle, ao relacionar a desaceleração da criação de novos
empregos com outros períodos históricos, e que justamente a
diferença do cenário histórico é que é o grande diferencial, a
presidenta reconheceu que seu discurso é carregado de "poder
simbólico" e que, embora estivesse no Litoral Norte do RS, em
Osório, ela falava à nação como um todo.
Ao direcionar seu discurso para
setores específico da sociedade brasileira, Dilma assumiu um tom
discursivo de campanha eleitoral? Aos olhos deste observador, não! A
presidenta apenas assumir um discurso em defesa da instituição que
representa! A Presidência
da República.
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