Se ainda há dúvidas sobre nossa democracia,
estas dúvidas devem ser minimizadas diante do discurso na ONU da
presidenta Dilma Rousseff e da visita da Comissão da Verdade ao
prédio onde funciona 1° Batalhão da Polícia do Exército, na
Tijuca, Zona Norte da cidade do Rio de Janeiro, onde nos anos da
Ditatura Civil Militar, funcionou um DOI-Codi, fatos ocorridos nesta
semana.
Os DOI-Codi (Departamento de Operações de
Informações - Centro de Operações e Defesa Interna), eram órgãos
vinculados ao Exercito e foram criados com o objetivo de repressão
às organizações de esquerda, mais especificamente às organizações
da esquerda armada. Durante o período da Ditadura Civil-Militar
(1964-1985), não somente a esquerda política, mas todos setores
formadores de opinião da sociedade brasileira sofreram alguma forma
de repressão. No meio científico o termo Terror de Estado foi
difundido para designar as práticas repressivas praticadas pela
institucionalidade em regimes de exceção, ou seja, na ausência do
estado de direito. Vale lembrar que nem toda a esquerda brasileira
pegou em armas durante a ditadura. Entretanto, muitos perderam a vida
ou parte dela nos porões da ditadura simplesmente pelo fato de
militar ou se auto proclamar de esquerda.
O fato do Brasil ter criado em Comissão da
Verdade e os trabalhos estarem redundando em investigações que
buscam estabelecer a verdade com relação aos crimes cometidos
durante aquele período, não apenas os casos mais famosos como os
casos ex-presidentes João Goulart e JK, como filho da estilista Zuzu
Angel, Stuart Angel Jones dirigente do MR-8, o do jornalista Vladmir
Herzog, etc., mas das pessoas comuns que foram mortas ou sofreram
alguma ação terrorista por parte dos órgãos de repressão. A
ideia de se formar centros de memória nos lugares onde se praticou
torturas ou funcionou orgãos que implementaram os mecanismos de
repressão social, ou o Terror de Estado durante os anos de chumbo, é
indubitavelmente um avanço democrático que demonstra que nossa
sociedade poderá conviver com esta verdade exposta em museus.
Descobrir que talvez o militar que dá nome a sua rua pode ter
promovido verdadeiras horas de terror a outras pessoas, pode ser uma
experiência muito mais cidadã que se imagina.
Na época da ditadura, crimes terríveis contra a
vida e de lesa-pátria foram praticados em nome da Segurança
Nacional. O engraçado, e por ironia do destino, ou melhor, por
ironia da democracia, uma ex-presa política e torturada naqueles
porões nefastos, de esquerda, discursa na abertura da Assembléia
das Nações Unidas - ONU, como chefe de estado, e coloca as práticas
de espionagem dos EUA em xeque em nome da Soberania Nacional.
Justamente aquele país, cujas praticas de espionagem contribuíram
para empurrar quase toda a América latina, na segunda metade do
século XX, para ditaduras militares.
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